É necessário um momento de preparação antes das entrevistas que vão ser realizadas para o documentário, observe esse texto retirado do material sobre Memórias das Olimpíadas Brasileiras de Língua Portuguesa em relação a esse momento:
Preparação para uma entrevista
-
Veja, no texto abaixo, como Antônio Gil se preparou para realizar a entrevista
que deu origem ao texto “Como num filme”:
O preparo: um roteiro provisório
Sabia que o sr.Amalfi tinha 82 anos e
que tinha suas raízes italianas preservadas em seu modo de vida. Já o conhecia
superficialmente. É pai de uma amiga de muito tempo e sabia que ele era um
homem que tinha muitas histórias para contar... Por isso, foi o escolhido para
ser o entrevistado e personagem na minha tarefa de memorialista.
Organizei um pequeno roteiro provisório.
Digo provisório porque ele serviria de apoio para que a conversa rolasse sem
cerimônias e fluísse ao sabor das vivências e lembranças que eu imaginava existir
na trajetória de vida do sr.Amalfi. Ele, o roteiro, me serviria de bússola para
não perder alguns aspectos importantes na minha escrita posterior. Na verdade,
o meu objetivo era que a memória do sr.Amalfi viesse à tona e desabrochasse com
total liberdade durante o nosso encontro
marcado.
Assim, peguei um caderninho brochura e
fui escrevendo no topo de algumas páginas ideias que poderiam ser suscitadas na
hora da nossa conversa.
Pensei em gravar. Poderia ser
interessante, mas a premência do tempo fez com que eu fosse de caderno e caneta
e minha especial atenção para estimular as palavras do sr.Amalfi, ouvir bem a
sua voz do coração e registrar com rapidez e com a certeza de que teria
coletado um bom material para o trabalho posterior: o de ser autor do texto.
- Veja alguns trechos da entrevista,
recuperados das anotações do caderno do entrevistador:
Gil: Sr. Amalfi,
sua filha me disse que o senhor é um assíduo frequentador de cinema, não é? Ela
me disse que o senhor vai ao shopping toda semana ver o filme que está em
cartaz. Pois bem... A gente podia fazer esta entrevista como se fosse um filme.
O que o senhor acha? O senhor vai se lembrando e vai me contando... Pode ser
assim? Do que o senhor se lembra da sua infância? O senhor pode me falar das
suas primeiras lembranças? É só entrar no filme da sua vida, não é?
Sr.
Amalfi:
Silêncio. (O sr.Amalfi ficou por alguns brevíssimos instantes revivendo com os
olhos, olhando para cima, para o mundo das emoções da memória revisitada. Como
se eu não estivesse lá. Vi que o pequeno azul dos seus olhos marejaram
instantaneamente. Mas dei corda para a entrevista se inaugurar.)
Gil: Fale um pouco
de seus pais ou de seus avós.
Sr.
Amalfi:
Ah... Meu Deus! Me dá uma emoção muito forte lembrar esses tempos... Faz tanto
tempo! É que eu tenho muita saudade desse tempo que já foi... Sou muito chorão,
sabe? Quando eu me lembro do meu pai e da minha mãe eu choro sempre... Deixa
ver... Você não vai tomar o seu café? Vai esfriar... Bom, vamos lá! Daquele
tempo eu me lembro... Bom, meu pai era italiano e a minha mãe também. Ele era
marinheiro. Era Ângelo. Ângelo Amalfi. Você sabe que no ano retrasado eu fui
até esse lugar lá na Itália e pude conhecer a terra dos meus pais... Foi o
melhor passeio que eu fiz até hoje... Lembro bem porque a minha mãe me
contava... Eles vieram casados para São Paulo em 1918. E já ficaram em Santana
[bairro da Região Norte da cidade de São Paulo]. Naquele tempo ela disse que
nem existia a Voluntários da Pátria [rua famosa desse bairro], veja você. Meu
pai foi trabalhar na Sorocabana [Estrada de Ferro Sorocabana – companhia
ferroviária criada em 1870]. E aí...
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